30.8.07

Carling Weekend 07

Depois de matar de inveja os que estão por aqui e de esvaziar o bolso dos que por estão lá, a temporada de festivais de verão já vai se encaminhando para o fim. Aconteceu neste fim de semana o último grande festival do ano: Carling Weekend Leeds & Reading. Digo o último grande, mas talvez este seja o maior de todos, se você considerar que são dois festivais acontecendo ao mesmo tempo: um em Leeds e outro em Reading. Ambos têm o mesmo line up, com as atrações revezando o dia da apresentação em um e em outro. Por falar em line up, muita coisa mudou esse ano. Leeds e Reading não têm muita fama de agradar a gostos variados, mas todo ano eles tentam manter pelo menos um headline que faz mais o tipo de pessoas normais de carne e osso. No ano passado foi o Pearl Jam, este ano, o Red Hot Chili Peppers.

Lama . Reading Festival 07 - Pic By Andrew Kendall - NME

Muitas bandas saíram e muitas entraram – um movimento comum que se deve ao período de safra e entressafra das gravações - mas o mais interessante mesmo é observar as bandas que migraram de palco. Posso estar enganado e isso pode ser uma teoria sem fundamentos, mas acredito que fatores como esse indicam se uma banda está em alta no momento ou não. No ano passado The Subways tocou no stage, não dava nada pelo show, tava ali esperando a atração seguinte, mas quando eles começaram a tocar eu totalmente entendi o motivo deles estarem no stage, foi tudo muito foda e muito bem feito. Nesse ano eles meio que “rodaram” e foram parar no NME que, apesar de menor, tem lá o seu charme. Não encaro a mudança de palco como uma decadência repentina na qualidade da banda, a mídia que talvez tenha os deixado de lado. Já o Long blondes fez o caminho inverso: saiu do NME em direção ao stage, refletindo o constante processo de ascensão por que vem passando a banda. Pelo visto essas coisas acontecem, mas imagino como deve ser decepcionante para uma banda saber que ela “caiu de palco” depois de um ano. Ou não, eu lembro do Jack White dizendo no início do show que o melhor de estar no festival com o Raconteurs é que ele podia tocar debaixo de uma tenda, numa atmosfera cool e intimista, que se tivesse com o White Stripes teria de tocar ao ar livre para um número muito maior de pessoas. Mini crise de estrelismo ou não, os argumentos procedem.


The Long Blondes . Reading Festival 07 - Pic By Andrew Kendall - NME


Maxïmo Park . Reading Festival 07 - Pic By Andrew Kendall - NME

Outra banda que saiu do NME em direção ao stage foi o Maxïmo Park, migração extremamente merecida, diga-se de passagem. No NME as coisas rolaram mais ou menos como tem sido nos últimos anos: um público mais conhecedor do que está assistindo e muita empolgação, claro. Um fato chamou atenção no Domingo, em Leeds. The View era o headline do NME, mas a quantidade e empolgação da platéia ao assistir a banda não chegou aos pés da loucura que os jornalistas ingleses relatam ter sido o show do Biffy Clyro, que tocou bem antes do View e teoricamente teria um público menor. A explicação é simples: no UK o público muda de “banda preferida” como quem muda de roupa, e o line up de festivais como esse são agendados muito tempo antes, ou seja, o público já mudou de opinião e The View não é mais o estouro que era há uns seis meses atrás – acontece. Diferente do View, o Smashing Pumpkins continua o mesmo estouro que era há alguns anos atrás. Billy e cia. fecharam a primeira noite de festival em Leeds com um set que não deixou ninguém sair do Branham Park com um pingo de decepção sequer, com “Hummer” e “Bullet With Butterfly wings”, entre outras.

Smashing Pumpkins . Leeds Festival 07 - NME

Bem, na dança de palcos que tem se mostrado a Carling Weekend agora é esperar para ver quem desce e quem sobre no line up do ano que vem. Temporada de verão europeu praticamente terminada, começa agora o segundo semestre musical aqui na terra dos papagaios e do CSS. Tim, Nokia e Moto já estão a caminho.


Link:

Smashing Pumpkins - Leeds Friday:
http://www.youtube.com/watch?v=u-IXVEsqcWs

Track 2 (Maxïmo Park - Our Velocity)

Cheers.

17.8.07

Falar (e especular) não é pecado

A Opinião Produtora ignorou o Billy aqui do lado e saiu falando e divulgando tudo para a imprensa. No Brasil é assim que funciona: as produtoras sempre brincam com a paciência do público prometendo mundos e fundos. The Strokes já tinha vindo ao Brasil umas cinqüenta vezes antes de 2005. The Rakes, Arctic Monkeys... Todos esses já foram alvo dos palpites. É bem verdade que os palpites acabam virando realidade, mas muito tempo depois. Os últimos dessa lista são o Smashing Pumpkins e o White Stripes. A produtora gaúcha declarou que tem um show confirmado com o Smashing Pumpkins para o fim do ano, no dia 27 de novembro no Pepsi On Stage, em Porto Alegre. Também confirma uma data para o Black Eyed Peas, no mesmo venue no dia 02 de outubro. Não sei se coincidentemente ou não, mas essa produtora é a mesma que divulgou o show do The Cure esse ano, hipótese descartada há bastante tempo. Sem dúvida nenhuma a grande surpresa – pensando bem nem tão grande assim – é a possível vinda do White Stripes. Para os Whites ainda está tudo meio nebuloso, uns dizem que não tem data nem local, outros afirmam que o show aconteceria no mesmo dia divulgado para o Smashing Pumpkins, 27 de novembro, no Bar Opinião. Ou seja, ninguém sabe de nada e nada é certo.


A surpresa não é tanta porque a dupla já é freqüentadora do Brasil há tempos. Como todos sabem, Jack White casou em terras nacionais, numa cerimônia dentro de um barco em Manaus, num rio. Meio que é de se esperar que eles queiram passar por aqui com a turnê do novo álbum, Icky Thump. Tudo muito lindo e legal, se for realmente verdade. A cada ano que passa a agenda brasileira de shows vem melhorando cada vez mais, e um número cada vez maior de bandas vão manifestando a vontade de vir para cá. A questão é que sair da Europa ou Estados Unidos e vir fazer show aqui é uma mina de ouro, talvez seja esse o grande motivo da agenda estar mais gorda. O Brasil fica no meio do nada, não tem como sair daqui e ir rapidinho para o país ao lado fazer outro show, no máximo um show em Buenos Aires, mas a viagem pára por aí. Uma vinda para cá significa possíveis shows perdidos que poderiam ter acontecido em qualquer outro lugar do mundo. Sem contar que também não é viável sair rodando o país como acontece quando as bandas vão para os Estados Unidos. É Rio, São Paulo e só, no máximo Curitiba. Todo esse “prejuízo” tem de ser reembolsado de alguma maneira e assim o leilão de cachês vai tomando proporções cada vez maiores. Saber se isso tudo é bom ou ruim é outra história. O fato é que as bandas estão vindo mais para cá e junto com elas as especulações. E, ao que me parece, infelizmente teremos de conviver com isso. Portanto só nos resta esperar e torcer para que White Stripes e Smashing Pumpkins estejam no “rol de atrações do segundo semestre”.

Track 9 (The White Stripes - Passive Manipulation)

cheers.

16.8.07

Arcade... quando?

A dúvida está na cabeça de todos: quando o Arcade Fire volta ao Brasil? Por enquanto essa é uma pergunta que ainda não tem resposta, mas otimistas de plantão por aí afirmam que isso não está muito longe de acontecer. Pois é, só quem já esteve em um show do Arcade é que sabe do que se trata ouvir a banda ao vivo. Ouvir o cd é legal, é tudo bonito etc. Mas não tem como não se surpreender ao ver aquele monte de gente em cima do palco tocando e cantando tudo tão bem e em harmonia. É difícil de esquecer do show do Rio em 2005 quando na verdade ninguém dava nada pela banda e a maioria do público que lotou o Tim Lab tinha comprado o ingresso pelo fato do Strokes ter esgotado – dois dias depois marcando outra data. O show foi inesquecível para os dois lados: banda e público. Os sorrisos e as expressões "como assim eles sabem cantar todas as músicas??" faziam todos cantarem ainda mais alto. Uma semana depois do show, Richard Perry posta “Brazil, I love you” no seu scrapbook no site oficial da banda, ou seja, gostar da terrinha eles gostaram, falta é uma produtora de respeito resolver colocar aquele monte de gente com seus instrumentos engraçados num avião e trazê-los para cá mais uma vez. Eles meio que competem com o Franz no cargo de publicitários do público brasileiro. São várias as bandas que comentam a propaganda que eles fazem daqui. No site oficial a última data deles é 19 de Novembro e é impossível não ficar pensando “quem sabe depois disso”... O fato é que não parece existir nada concreto, de certo mesmo só a expectativa. As últimas apresentações da banda mundo a fora têm sido ultra aclamadas, eles definitivamente viraram stars. Em 2005 ainda eram uma bandinha canadense que fazia sucesso nos Estados Unidos. O álbum nem tinha sido lançado no Brasil ainda, daí a empolgação diante da platéia cantante. O cd novo – Neon Bible, para os desavisados – foi gravado numa igreja e está cheio de efeitinhos bonitos. Eles se superam cada vez mais no grau de vanguardisse. Se fosse qualquer outra banda nacional dessas pseudo-politicamente-corretas que batesse com as baquetas em capacetes e rasgasse revistas nas apresentações tudo soaria forçado. O Arcade consegue fazer a coisa parecer natural... e sem querer nem subestimar nem pagar pau para ninguém ainda não vi nada parecido. Seguindo a tendência de tocar em elevadores segue abaixo um link com toda a banda tocando “Neon Bible” num elevador – enorme, claro.

Arcade Fire - Tim Festival 2005.

Track 1 (The Arcade Fire - Black Mirror)

Link:

Performance no elevador. Richard rasgando uma resvista no ritmo da música.
http://www.youtube.com/watch?v=wjxef8AfVQg&mode=related&search=

cheers.

9.8.07

Union Of Knives - Tate Tracks

Aproveitando a deixa do Long Blondes... mais Tate Tracks. Como já foi falado aqui, Tate Tracks é um projeto do Tate – grupo de galerias na Inglaterra – que está fazendo parceria com algumas bandas, envolvendo música e artes plásticas. As canções são compostas exclusivamente para as obras, eleitas pelos próprios músicos como fonte de inspiração. Além do Long Blondes, uma banda em especial me chamou a atenção: o Union Of Knives. Trata-se de um trio de Glasgow que faz um som meio eletro meio porradinha que em algumas músicas lembra muito Placebo, e em outras faz você querer ouvir Arcade Fire porque, apesar de ser parecido, Arcade é melhor. A questão é que o resultado alcançado por eles com a obra Quattro Stagione, de Cy Towmbly, é simplesmente fantástico. Para falar a verdade, o quadro ajuda muito nisso. É uma obra feita em quatro partes, cada uma representando uma estação do ano, com suas cores e sensações específicas. O estilo de Towmbly lembra um pouco a maneira de trabalhar de Pollock: os movimentos com o pincel ficam bastante claros no produto final.
Cy Twombly, Quattro Stagioni (A Painting In Four Parts) - 1993-4

A canção feita pelo grupo escocês é cheia de altos e baixos (link no fim do post). Quando você acha que ela está indo por um caminho, ela pega outro... e é assim até o final. Talvez seja esse o fator que tão bem representou uma obra que ao retratar as quatro estações, consequentemente retrata os processos de mudança entre elas. O projeto gráfico do Union Of Knives é meio esquisito e até um pouco feioso. Olhando o logo você é capaz de jurar que é uma banda de hardcore, mas para o bem de todos os visitantes do Tate – tanto as galerias quanto o site – não é. Isso não significa que a banda é boa. Digamos que ela fez um bom trabalho no projeto e que tem algumas músicas boas o suficiente para serem ouvidas até o final. Apesar de eu não ter caído de amores, vale a pena dar uma conferida no trabalho deles.

Union Of Knives


Links:

Tate Tracks - Union Of Knives vs. Cy Twombly:
http://flash.tatetracks.org.uk/06_union/narrow.htm

Evel Has Never clip - Union Of Knives:
http://www.youtube.com/watch?v=bOxc0XQEvsE

Track: any from the Tate Tracks.

cheers.

3.8.07

The Long Blondie

A banda das duas tem o nome relacionado à cor dourada dos cabelos. Uma é de fato loira e teve o auge do sucesso por volta do fim dos anos 1970. A outra tem o cabelo castanho, e está no auge do sucesso neste exato momento. A primeira é Debbie Harry, vocalista do Blondie. A segunda é Kate Jackson, vocalista do Long Blondes, sexto lugar na lista cool da NME no ano passado. A semelhança entre as duas – ou entre a banda das duas – já foi objeto de muitos comentários no mundo da música. A questão é que por mais clichê que isso seja, sair à procura de traços que atestem a influência exercida entre uma banda e outra é sempre uma tarefa válida. Uma das bandas precursoras do New Wave, o Blondie tem esse nome graças aos caminhoneiros tarados que passavam pela banda na estrada e colocavam a cabeça para o lado de fora da janela para gritar “louraaça”. Pode-se dizer que grande parte – ou quase toda – do sucesso conquistado pela banda se deve à Debbie. De personalidade forte e do tipo feminista e que sabe o quer, suas performances impressionam principalmente pela atitude. Quando o Long Blondes surgiu no início de 2006 a sensação que se tinha ao assistir as primeiras apresentações da banda ao vivo era a de resgatar levemente uma imagem um tanto quanto indefinida na memória. Pois é, no meu caso e acredito que no caso da maioria das pessoas, essa imagem era o Blondie. A semelhança não está apenas no comportamento das vocalistas no palco, o som também tem lá seus acordes em harmonia. No myspace do Long Blondes, Blondie não é citada como uma influência, mas ainda assim é difícil não perceber a relação de proximidade que tem as duas bandas. A banda de Debbie retomou as atividades em 1999, com shows, um CD e um DVD gravados ao vivo.

Pic By Dean Chalkley


Há quem diga que o Long Blondes é a banda mais cool do UK hoje. Independente de qualquer semelhança com qualquer outro grupo, eles estão em um processo de ascendência constante. Enquanto diversas bandas saíram do palco principal para tocar em palcos menores no line up da Carling Weekend desse ano, eles saíram do palco NME em direção ao main. Não é um fenômeno-de-evolução-de-palcos como o Arctic Monkeys, que foi do menor ao maior palco em um ano, mas isso demonstra o quanto a banda vem crescendo ultimamente. O debut Someone to Drive You Home de letras totalmente feministas e produzido pelo ex-baixista do Pulp, Steve Mackey, foi lançado esse ano no Brasil pela Trama. Os casaquinhos da vovó, os lencinhos no pescoço, as saias no joelho e o comportamento de Kate remontam totalmente aos anos cinqüenta, assim como todo o resto da banda. Eles foram recentemente convidados pelo Tate – grupo de galerias de arte espalhadas pelo UK – para fazer parte de um projeto cujo objetivo é compor músicas tomando por inspiração pinturas de alguma das galerias. Kate e seus companheiros de banda saíram pelo Tate Modern – uma das sedes do grupo, em Londres – à procura de um quadro para sua composição. A obra escolhida foi “Untitled” de Jannis Kounellis, pintor grego famoso por inserir matérias não-usuais em suas obras, como pedaços de carne, lixo etc. “Untitled chamou nossa atenção porque nós vimos sua paisagem industrial seca e áspera e prontamente nos imaginamos dentro dela”, afirma a banda.

Jannis Kounellis - Untitled 1979

Não há dúvidas de que a sensação transmitida pelo quadro foi perfeitamente capturada por eles: a impressão negativa e forte vai gradativamente dando lugar a um espírito, digamos, revolucionário na medida em que a música composta especialmente para o projeto vai se incrementando e nos surpreendendo com seus altos e baixos. Sem exageros e rasgações, chega um momento em que os pássaros parecem ganhar vida e sair voando do quadro. Exposições deste tipo não são nenhuma novidade. Aqui mesmo no Paço Imperial do Rio já houve algumas parecidas. Mas o resultado alcançado nesta do Tate, em especial, é de fato destacável. Além do Long Blondes, o projeto também conta com a participação do Klaxons, The Land Scapers, Chemical Brothers, Rol Deep, Graham Coxon, Union Of Knives, The Real Tuesday, Man Like Me, Lethal Bizzle e Basement Jaxx, que compõem músicas para obras de artistas como Andy Warhol e Anish Kapoor. A música do Long Blondes – assim como todas as outras compostas pelas outras bandas – pode ser escutada com o acompanhamento da pintura no site do Tate:
http://www.tate.org.uk/modern/tatetracks/longblondes_kounellis/.

Tate Track (The Long Blondes - Untitled Janis Kounellis)

Links:

X Ofender - Blondie:
http://www.youtube.com/watch?v=sZ6fpSdQQKc

(Behind) Closed Doors - The Long Blondes (Kate cantando dentro de um elevador):
http://www.youtube.com/watch?v=5ywBMF27VkA

cheers.